Futebol como mobilizador para a cidadania
- Admin
- 9 de out. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 21 de out. de 2018
No Recife, projetos utilizam-se do futebol como mobilizador social, ajudando crianças e jovens a sair da vulnerabilidade das ruas
Considerado o país do futebol, o Brasil carrega essa febre nacional com orgulho e com 5 títulos em Copas do Mundo. O esporte faz parte da vida de milhares de pessoas. São mais de 700 times profissionais e 128 deles fazem parte das 4 divisões nacionais da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF.
O Campeonato Brasileiro é um dos mais disputados do mundo e conseguir uma vaga para jogar em um dos times na competição é o sonho de muitas crianças e adolescentes espalhados por todo o país. Acontece que nem todos que gostam de jogar bola, tem condições para investir no esporte, já que, segundo a Fundação Abrinq, cerca de 19,3 milhões de crianças e adolescentes (entre zero e 14 anos) vivem hoje em situação de pobreza, ou seja, em famílias onde cada pessoa recebe R$ 440 ou menos por mês. Outros 7,4 milhões se incluem no critério de extrema pobreza, com renda per capita mensal de R$ 220 ou menos.
Projetos espalhados no Recife e RMR dão oportunidade para que crianças e jovens possam praticar o esporte e trabalhar outras áreas para a formação pessoal. O projeto Nova Divinea, do bairro de Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes, integra as crianças e o futebol na construção da cidadania. Segundo Geraldo Silva, treinador há um ano e 8 meses do Nova Divinea, formar um jogador não é o objetivo principal do projeto, a questão humanitária está além da questão esportiva. A principal intenção é formar pessoas e permitir uma visão de futuro em qualquer área que escolham seguir. “Decidimos fazer o projeto na nossa própria comunidade onde existe muitas crianças carentes e senti que precisava ajuda-las e a nossa maior preocupação é tirar esses garotos das ruas, o mundo de criminalidade e sabemos que o esporte é capaz de tira-los dessa vida”, afirma Geraldo.
Assim como o Nova Divinea, o Futebol Society Burity, que atua há 9 anos, tem ações que seguem a mesma proposta de formação social. O responsável pelo projeto, Leandro Lemos do Nascimento, se preocupa em formar cidadãos, independente do esporte, tendo como principal objetivo de incentivar as crianças nos estudos, no respeito à família, no próximo e juntanto o estudo com o esporte, mostrar uma melhor perspectiva de futuro. “O trabalho que a gente faz aqui, interagindo com todas as crianças, é formar o cidadão. A gente não promete aqui formar o jogador. Nossa obrigação é o estudo”, pontua Leandro.
O Madalena Social, projeto que fica na comunidade do Zumbi, no bairro da Madalena, dirigido por Gilson Silveira e Carlos Seixas, seguem a linha do futebol como meio de incentivo ao estudo e possui 300 crianças entre 7 e 14 anos participando do projeto.
Thiago Farias, vice-presidente da Associação Desportiva HS, fundada há 20 anos por Hélio Ferreira na Cidade Universitária, acredita que o futebol é uma ponte para a educação e que a formação escolar para a vida dos jovens é o ponto principal. “Para poder participar do projeto, a criança tem que ir bem na escola, apresentar o boletim, respeitar o colega, cumprir com o cronograma de estudo. O futebol vem como um combustível pro estudo, porque eles aprendem aqui que para poder jogar, tem que estudar”, conta Thiago. O trabalho desenvolvido dentro da HS rendeu frutos. Alguns de seus beneficiados já destacam em competições. “Aqui a gente cria uma unidade, e hoje a HS é uma referência, porque com nosso trabalho temos muitos garotos já jogando no sub-15, em campeonatos, é muito gratificante”.
Família
Não só as crianças que participam desses projetos. As famílias também são beneficiadas. As mães conseguem acompanhar de perto o desenvolvimento dos filhos. Gilvanete Silva, mãe de Lucas Gabriel, jogador do Society Burity, vê perto o crescimento do filho e a importância de estar ao lado dele nos momentos de conquistas. “Estou sempre acompanhando ele. É é aqui o momento de criar amizades, laços. Eu posso observar o quanto ele está mudando em casa e na escola. E aqui no projeto a gente se sente em casa. É uma integração muito grande".
Gilson Silveira, do Madalena Social, que agrega ao futebol valores cristãos, também tem em mente projetos para beneficiar as mães dos meninos. “Elas gostam muito porque sabem que seus filhos podem encontrar ali um lugar de descontração e também de pessoas que se preocupam com eles, mas como a gente sabe que muitos dos problemas vem justamente da família, a gente quer integrá-las, seja gerando renda com o incentivo na fabricação de bolos e lanches, como com palestras. A gente quer tentar também conseguir recursos para a renda familiar”, destaca Gilson.
Luciana Pereira, mãe de Davi Leandro, que também faz parte do Burity, destaca a importância da inclusão existente na equipe e o quanto o ambiente de amizade e desenvolvimento ajudam as crianças a aprenderem brincando. "São valores que serão para a vida toda. É enriquecedor e muito importante pra formação dele. Era uma criança muito calada e hoje em dia ele socializa melhor, é muito mais participativo, sem falar que a coletividade aqui é muito forte, então nos tornamos uma família”, conta Luciana.
A união fortalece o trabalho e através desses projetos, é possível ver que os resultados positivos podem ser colhidos através da mudança dos hábitos. O futebol é um instrumento social, um facilitador para mobilizar diversos grupos e que tem o poder de unir pessoas para um bem comum.
por Júlia Oliveira
Kommentare