Bicicross resiste no Recife
- Admin
- 16 de nov. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 20 de nov. de 2018
Mesmo com a carência do esporte, atletas arrumam uma forma de continuar com a modalidade
Conhecida como BMX (Bicycle Motocross), ou bicicross no Brasil, a modalidade surgiu na Europa no final da década de 50 e se popularizou no Brasil somente no final da década de 70, com o lançamento da primeira bicicleta apropriada para o esporte, a Monark. O BMX é um esporte olímpico desde os jogos de Pequim 2008 mas a primeira participação brasileira em Londres, 2012. No Rio, em 2016, dois brasileiros participaram da disputa olímpica mas não ganharam medalhas. No Recife, atuar no esporte é enfrentar barreiras para seguir na modalidade e conquistar títulos.

O bicicross no Recife é visto como um esporte sem apoio e os atletas enfrentam desafios para se sobressaírem no cenário nacional. Atualmente a cidade conta com três pistas, mas apenas a do Parque da Jaqueira é apropriada para receber competições. “O esporte é caro. Os atletas daqui não conseguem se manter”, conta Vandré Vital, que já foi presidente da Federação Pernambucana de Bicicross oficialmente até 2009. Desde então, a entidade segue sem presidência oficial e Vital tenta cumprir os compromissos dentro da sua disponibilidade de tempo. “É muito difícil achar alguém para assumir, as pessoas têm medo. Hoje consigo promover o esporte através de ONGs de ciclismo e projetos para obter recursos”, conta Vandré.
Em Pernambuco, destaca-se a cidade de Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste do estado, onde a modalidade vai ganhar, ainda este ano, uma pista apta para competições nacionais, regionais e estaduais. “Nossa gestão tem valorizado o esporte e incentivado cada vez mais os representantes da cidade em competições, além de estar entregando à população diversas quadras nas escolas municipais”, ressaltou Edson Vieira, prefeito do município.
Velocidade
No Bicycle Motocross, é importante ser rápido. Por ser um esporte de impacto, existem muitas quedas e bloqueios de corpo. Um exemplo de atleta no cenário da elite nacional na modalidade é Pedro Queiroz. Aos 16 anos, Pedro buscou, em São Paulo, o que não conseguiu no Recife e hoje integra a equipe de São José dos Campos, mantendo-se na elite.
Desde os cinco anos, Pedro Queiroz atua no BMX. Ao longo da carreira conquistou alguns títulos. Entre eles: seis vezes campeão pela CBBX (Confederação Brasileira de Bicicross) 2008-2013, campeão da Copa do Brasil 2011-2014, Campeão da Copa Internacional Paulínia 2012, Vice Campeão pan-americano 2012, Campeão Latino Americano e Campeão Brasileiro 2017. Atualmente lidera o ranking latino-americano. “Tudo começou no Parque da Jaqueira. Hoje estou morando em São Paulo em busca de novas oportunidades e novos títulos para poder realizar meu sonho, que é estar nas olimpíadas”, ressalta Pedro.

No Recife, Pedro conta que suas maiores dificuldades eram as poucas competições ao longo do ano, fazendo com que o rendimento não fosse tão alto como atualmente, em São Paulo. “Aqui tenho acompanhamento, não só na academia como na pista, tendo corrida todo final de semana com o rendimento alto e com um técnico que me acompanha 24 horas por dia”, conta.
Desde criança, a família de Pedro apoia o garoto no esporte e, graças a isso, ele conseguiu chegar onde está. “Quero levar o BMX para vida, colocando várias metas ao longo da minha carreira, sem desistir e nunca me desanimar com meus erros”, diz.
“Ninguém vive do esporte aqui no Recife. Praticamos mais por lazer. Geralmente os treinos acontecem no período da noite, por isso, a gente se vira como pode, conserta a pista e faz cotinha para comprar o material que falta”, conta Eduardo Alves, atleta há 13 anos.

Entre idas e vindas no esporte, Eduardo Alves resiste pela paixão. Embora tenha uma trajetória de altos e baixos na modalidade, já conquistou títulos. Entre eles, campeão pernambucano 2012 e campeão do desafio de BMX beneficente de Aldeia, Camaragibe. Devido à rotina pesada de estágio e faculdade, Eduardo não tem tempo para treinar como antes. “Nesse semestre consegui arrumar tempo livre para treinar nas terças. Tenho pretensão de voltar a competir, mas ainda preciso intensificar o ritmo dos treinos”, conta.
“Na Jaqueira, onde treino, temos muita visibilidade só que, infelizmente, algumas pessoas mancharam a imagem do esporte e, às vezes, somos marginalizado”, diz Eduardo. Para ele, Santa Cruz do Capibaribe é referência no esporte, pois lá os atletas têm a visibilidade e conseguem patrocínios. “Lá o prefeito reconhece o esporte e, atualmente, está formando uma pista ´sinistra´. Os empresários aqui precisam conhecer mais sobre o esporte”, afirma.
Gilmar Batista, atleta e professor da modalidade no Parque da Jaqueira, já foi campeão nacional e estadual bicicross. “O BMX é sofrido, só fica nele quem realmente ama. Dentro do esporte há muita dificuldade mas há muita fé”, diz.
O atleta está há cinco anos em um projeto educativo no qual traz jovens de comunidades carentes para ensinar sobre o esporte. “As autoridades precisam acordar. A juventude precisa ocupar a mente e estar envolvida em alguma prática esportiva”, afirma Gilmar.
Ainda que tenham pistas para o bicicross, existem melhorias a serem feitas. No Recife, além do Parque da Jaqueira, existem pistas também no Parque Santana e no Parque da Macaxeira. Segundo Vandré Vital, existem planos para melhorias, entre eles: aulas comunitárias, contribuições espontâneas e buscar apoio e investimentos.
O recém-eleito Deputado Federal, Felipe Carreras tornou oficial a proposta da pista do Parque da Macaxeira que, por sua vez, está abandonado, mas ainda assim tem potencial para reunir adeptos pernambucanos e de outros estados. “Nossa intenção é tornar a pista uma referência para atletas de todo o Brasil, dando oportunidades para treinarem em um local de qualidade e novos atletas serem formados”, explica Carreras.
por Andrea do Monte
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