E-sports: negócio promissor
- Admin
- 22 de out. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 5 de dez. de 2018
Empresas pernambucanas dão start no mercado de games em Pernambuco

Videogame não é mais coisa de criança, muito menos mera diversão. Diversos jogadores transformaram a brincadeira em profissão, e se dedicam à atividade integralmente. O mercado de E-sports (eletronic sports) está consolidado em vários países e promove eventos e campeonatos que movimentam milhões de dólares anualmente, lotando arenas com milhares de espectadores. A expectativa é que esse mercado chegue na casa dos bilhões já no ano que vem.
“Hoje o E-sports é o segmento que mais cresce no mundo, comparado a outros mercados, como o da música e o do cinema”, destaca Raul Sales, gerente de pesquisa e desenvolvimento da Saga, escola de artes, design e jogos digitais. O Brasil é o terceiro maior consumidor de E-sports no ranking mundial, com cerca de 17,7 milhões de pessoas acompanhando a modalidade, segundo estudo da Newzoo, consultoria especializada no mercado de games e mobile. Mas trata-se de um mercado ainda em formação. Falta investimento e profissionalização dos cyberatletas. “Existem as instituições que promovem os eventos, as ferramentas de competição (as equipes), e o atleta. O que sustenta essas equipes hoje são empresas que investem nelas, mas o volume ainda é pequeno”, declara Sales.
Fomentar a formação dos atletas e buscar empresas que patrocinem o negócio são os atuais desafios para a expansão em Pernambuco. “Além, claro, da realização de eventos, torneios e copas. Os cyberatletas e organizadores devem atuar como agentes de mudança de cultura sobre o E-Sports, afinal são as pessoas que competem e, se elas encontrarem barreiras culturais e sociais, o mercado perderá velocidade de ampliação”, destaca Perseu Bastos, coordenador de empreendedorismo digital do Armazém da Criatividade, empresa ligada ao Porto Digital localizada em Caruaru, no Agreste do Estado.
A Noord.Games, startup associada ao Porto Digital, é interessada em fomentar o mercado de videojogos no Nordeste. Ela não desenvolve nem produz jogos digitais, mas apresenta ao público recifense experiências e ações para que o esporte digital se difunda cada vez mais na região. “O negócio surgiu da observação de que não havia empresas nesse mercado, que tem alto crescimento fora do País e que começou a crescer principalmente em São Paulo, mas não havia chegado à região nordestina. Então a Noord surgiu com a ideia de criar essa demanda”, explica Gabriel Anceles, um dos diretores da startup.
Mesmo crescendo em taxas menores ao território nacional, o mercado de games tem ganhado a atenção de algumas marcas, que entram no negócio como patrocinadoras dos eventos. Neste ano, a Noord promoveu um campeonato no Paço Alfândega que atraiu cerca de 10 mil pessoas, o que demonstra o potencial desse mercado.
Porém, para o gamer (jogador), o jogo em si não traz o retorno financeiro. Ele precisa ganhar muita visibilidade nas partidas para conseguir algum tipo de apoio. Somente por meio de parcerias com marcas e negócios paralelos é que surgem os bons salários. “A remuneração vem das organizações que participam do campeonato. Essas empresas prospectam financiamento para quem quer ter visibilidade. As organizações pagam salários e bônus por participação e boa colocação em torneios”, conta Gabriel.
GAMERS
Jogador desde agosto de 2012, o estudante recifense de Física Luiz Guilherme de Oliveira (22) conta que disputou junto com colegas um campeonato online e venceram o torneio de League of Legends (também conhecido pela sigla LoL), recebendo 3200 RB, a moeda virtual utilizada no jogo para comprar recursos na plataforma.

Com o boom desse game, ele percebeu que as pessoas começaram a valorizar mais a atividade e considerá-la um verdadeiro esporte: “sendo uma pessoa que joga muito desde sempre, tive problemas com familiares que desprezavam o jogo mas, ao verem esse crescimento do cenário de E-sports, começaram a mudar o modo de pensar sobre isso", conta o gamer.
Em situação diferente encontra-se Gabriel Bohm (22), atleta de League of Legends de Florianópolis (SC). Ele deixou de jogar em campeonatos e hoje ganha dinheiro por meio de streaming (partidas transmitidas ao vivo pela internet) e com a venda de seus produtos oficiais em uma loja virtual própria.

“Minha principal conquista foi quando participei do campeonato mundial em 2015. Hoje não participo mais de campeonatos. Ganho salário e cachê para participar de eventos, faço streaming jogando e sou embaixador de uma marca”, relata KamiKat, nome pelo qual Gabriel é conhecido no mundo dos games. Kami morou durante seis anos numa gaming house em São Paulo, onde tinha todo o aparato para o jogo e para a moradia: alojamento, alimentação e acompanhamento com psicólogos.
É de Caruaru o atual campeão da Copa Nordeste do Fifa, um dos jogos mais vendidos no mundo e "febre" no Brasil.

Paulo Neto começou a jogar aos 13 anos com o irmão e, quando participou do primeiro campeonato, e chegou às quartas de final, percebeu que tinha jeito para a coisa. Passou a treinar e jogar em outros eventos. Recentemente participou de uma seletiva online para um campeonato internacional, promovida pela marca de games PlayStation.

Hoje, aos 15, o atleta conseguiu uma viagem para disputar o primeiro torneio mundial. “Foi incrível. O campeonato era a Gothia Cup, muito famoso por revelar jogadores de futebol e reúne jovens de todo o mundo”, conta. O evento aconteceu em Gotemburgo, na Suécia, e Paulo teve todas as suas despesas pagas pela produtora do campeonato.
O E-sports também conquistou estudantes de nível superior. A UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) montou a própria equipe para participar do primeiro ano da modalidade League of Legends nos JUBs, tradicionais Jogos Universitários Brasileiros, patrocinados pela CBDU (Confederação Brasileira de Desportos Universitários). Arthur Feller (20), estudante de licenciatura em História, é um dos integrantes da equipe Black Bulls (Búfalos Negros), que teve dois meses de treinos e foi campeã este ano no JUBs, disputados em Goiânia.
“Nosso foco principal são os campeonatos universitários, que estão ganhando destaque no Brasil, mas temos também participado de outros torneios”, conta o jogador. Ele relata a importância das iniciativas governamentais e empresariais para o fomento do esporte. “Hoje em dia, times de futebol, empresas e até mesmo universidades vão atrás de incentivo para participar do cenário competitivo”, complementa.
Estima-se que os melhores jogadores brasileiros, de São Paulo, ganham próximo dos R$ 20 mil mensais, somando salários, patrocínio, e vendas de produtos. Mas essa é uma realidade ainda incipiente quando se fala em Nordeste e em Pernambuco. O jeito é assistir ao ritmo desse jogo e se preparar para as próximas partidas.
Confira os maiores times do Brasil em LoL, CS:GO e Battlefield, no vídeo do canal TechMundo:
por Laís Arcanjo
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