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Náutico e o maior jejum de títulos de um clube pernambucano

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    Admin
  • 21 de set. de 2018
  • 5 min de leitura

Atualizado: 21 de out. de 2018

Mesmo com apoio da torcida, time alvirrubro enfrenta os desafios de continuar na série C por mais um ano, além da recente volta ao estádio-sede, no bairro dos Aflitos


Crédito: Jadson Photograph

Já dizia o treinador argentino Marcelo Bielsa: “os meios de comunicações são especializados em perverter o ser humano, porém devemos dizer a maioria, que o êxito é uma exceção. Os seres humanos, de vez em quando triunfam, mas antes eles lutam, se esforçam, se decepcionam e ganham de vez em quando, muito de vez em quando”.


Em 2004, quando a bola foi levantada na área e Marco Antônio dominou a torcida já estava em festa. Depois que a bola caiu na cabeça de Kuki para ele cabecear para o fundo do gol, o descontrole já estava formado. Era o Náutico conquistando o título de Campeão Pernambucano pela vigésima primeira vez. O que mal sabia o torcedor é que só 14 anos depois ele iria poder voltar a dizer uma simples palavra: campeão.


“Pra mim independentemente de fase e títulos, todos os dias aqui no clube são prazerosos. É a minha casa. O Náutico significa tudo pra mim, sou apaixonado pelo clube”, conta Kuki, autor do gol do título de 2004, atual auxiliar técnico da equipe.


Desde o dia 18 de abril de 2004, o torcedor do Clube Náutico Capibaribe não sabe o que é ser campeão, sair pelas ruas e comemorar. Foram anos aguentando os rivais e as gozações. Quase 14 anos depois, o Náutico venceu o Central de Caruaru e quebrou o jejum de títulos que o assombrava por tanto tempo, com uma Arena Pernambuco lotada e recorde de público entre clubes no estádio.


Foram 43.352 pessoas para uma renda de quase um milhão de reais. Uma torcida desacreditada, que costumava ser chamada de torcida que cabe em uma Kombi. E a Kombi lotou. E não foi nada fácil, mesmo sem ser um dos seus rivais da capital, a equipe Caruaruense deu trabalho, chegando a botar uma bola na trave. Naquele segundo pareceu que o mundo parou, de tão calado que o estádio ficou.


O uruguaio e ídolo da torcida, Alberto Acosta, deu uma palavra sobre a final antes do jogo: “Estou na torcida, esse ano não escapa. Náutico vai ser campeão pernambucano, amo esse clube. Quando jogávamos nos Aflitos, não tinha torcida igual”.


E em 2018...


Um dos clubes mais tradicionais do Nordeste, o Náutico iniciou 2018 em meio a um cenário de terra arrasada. Após colecionar fracassos em campeonatos regionais, o alvirrubro foi rebaixado à série C do Campeonato Brasileiro e ganhou fama de mau pagador. Porém, esse ano, tudo está diferente. Resultados expressivos como o 3 a 0 contra o Sport, em janeiro, na Arena Pernambuco, a classificação até a quarta fase da Copa do Brasil e o acesso à final do Campeonato Pernambucano, depois de quatro anos sem disputar uma final, contra o Central que, pela primeira vez em 99 anos, participa de uma decisão estadual, são provas disso.


A atual gestão, que assumiu em janeiro, chegou com um discurso de reconstruir o Náutico e resgatar o orgulho dos alvirrubros, que têm de ouvir piadas dos rivais de que o Timbu “nada, nada e morre na praia”. Para a temporada atual, o clube resolveu continuar com o treinador Roberto Fernandes, que tinha caído com o time para a série C na temporada passada. O orçamento do ano passado era de R$ 900 mil por mês. O elenco desse ano foi montado com um valor histórico de R$ 180 mil mensais. A base vem sendo bastante usada; virou a solução para um time que não pode gastar tanto. Há apenas 15 jogadores formados no clube.


Uma arena em busca de um time

A obra foi tocada pela construtora Odebrecht e teve um custo total de R$ 743 milhões, 55% a mais do que o valor previsto, de R$ 479 milhões. Segundo a Operação Fair Play da Polícia Federal, deflagrada em 2015, houve um superfaturamento R$ 42,8 milhões. Na ocasião, a PF fez buscas no escritório da empreiteira no Recife, no Comitê de Gestão Público Privada do governo de Pernambuco e em uma residência. Na Arena, computadores e documentos foram recolhidos, mas ninguém foi levado para prestar depoimento.


Nos planos vendidos para sediar a Copa do Mundo, no entorno da Arena haveria uma cidade com escolas, hospitais e hotéis. Hoje, porém, só existe um estádio de futebol rodeado de mato por todos os lados. Prevendo a possibilidade de o empreendimento se tornar um elefante branco depois da Copa do Mundo, o Governo de Pernambuco e a Arena Pernambuco Negócios e Participações, consórcio formado por duas empresas pertencentes à Odebrecht, precisavam de um time que desse utilidade ao negócio.


Os três principais clubes do Recife foram assediados para mandarem seus jogos em um local a 22 quilômetros de distância do centro da cidade. Todos com seus estádios próprios mantiveram-se em uma postura cautelosa a cada proposta. Após muitas reuniões, o único clube que cedeu às investidas foi o Náutico. Em troca, recebeu inúmeras promessas não cumpridas.


De volta pra casa

Durante esses 14 anos, aconteceram coisas boas, como acessos à série A, e coisas ruins, como a saída do Náutico dos Aflitos para a Arena Pernambuco. Nos estádio da Avenida Rosa e Silva, o Náutico era fortemente respeitado.


A torcida reforçou a ideia de como é importante a volta para casa. “Os Aflitos é a nossa eterna casa. Foi a pior burrada sair de lá e apagar ainda mais o Náutico nas competições. Desde que me conheço como torcedora, se o time não ganhava o jogo, a torcida ganhava algumas vezes e, na Arena, a ambição de crescer, nos diminuiu”, diz a torcedora Priscila Falcão.


“O descaso da administração e do Governo com o Náutico, na má acessibilidade, colocando jogos inviáveis pra lá, muitos sem metrô na volta, me revoltei. Hoje, vejo essa Arena como um câncer na história do Náutico. Perdemos nossa identidade e temos que sair de lá urgente para nunca mais voltar”, complementa o alvirrubro de Caruaru, Lucas Breno.


A raiz de toda frustração é a expectativa. Imprensa, torcedores e diretoria acreditavam que o Náutico alcançaria outro patamar. Pela primeira vez em muito tempo, poderia brigar de igual para igual com os principais times do país, e até do continente. Para muitos, o clube centenário estava no lugar onde merecia.



A alvirrubra Maria Célia conta como seria importante pra ela o título para dedicar ao pai que já não está presente. “Um título significa muito mais que apenas um título. Meu pai sempre foi alvirrubro doente, faleceu cedo mas deixou seu legado. Quem conheceu ele, alvirrubro de carteirinha e graças a Deus, sabe que passou esse amor pra mim. Se fosse assistir ao jogo do Náutico em casa, não podia ficar no local ninguém que não fosse alvirrubro. E ele brigava em mesa de bar, em qualquer canto, pelo Náutico”, lembrou.


“Antes dele ficar debilitado por conta da idade e doenças, todo domingo estávamos na piscina dos Aflitos e até onde deu, me levava pros jogos (pena que não lembro por ser muito pequena na época). Painho ou ‘pelado’, como era o apelido dele, se foi quando eu tinha 12 anos mas me ensinou o que é amar um time de verdade e que nunca é só futebol, vai muito além disso. Em todo os jogos ele está comigo, no meu coração, então um título significa muito mais, é uma homenagem, uma lembrança, um amor com certeza para ele”, complementa, emocionada.

 

por Victor Tadeu

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