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Remar é preciso, não importa a maré

  • Foto do escritor: Admin
    Admin
  • 9 de out. de 2018
  • 4 min de leitura

Atualizado: 10 de out. de 2018

Esporte de muita tradição e sedutor por natureza, o remo em Pernambuco enfrenta a maré baixa dos investimentos, mas ainda possui praticantes apaixonados pelo esporte


Ter uma visão privilegiada de dentro do Rio Capibaribe da cidade do Recife não é para todo mundo. No documentário Recife de Dentro Pra Fora, da diretora e roteirista Katia Mesel, o registro é de beleza, contrastes e uma natureza que margeia esse rio de tantas histórias. Alguns privilegiados têm essa visão quase todos os dias: são os pescadores, barqueiros, baiteiros e atletas que cruzam o rio cortando a correnteza, no vai e vem da maré.


Alex Ferraz, ex-atleta de remo profissional, participou de grandes eventos e representou vários clubes pelo país. “O primeiro clube de remo do Brasil foi o chamado GPA ele é de Santa Catarina. O segundo clube mais antigo do Brasil é o clube de Regatas Boqueirão, do passeio no Rio de Janeiro, e o terceiro clube mais antigo é o clube de Regatas do Flamengo na década de 30. O Rio era o foco do remo no Brasil, tinham mais de 16 clubes. São Cristóvão tinha remo, Guanabara tinha remo, Botafogo até hoje tem remo e o Vasco tem remo”, destaca Alex.


O remo perdeu espaço no coração dos torcedores para o futebol. Apesar de não ter mais o prestigio do passado, dos 14 estados brasileiros que possuem organizações cadastradas na Confederação Brasileira de Remo (CBR), 64 delas atuam no ensino e na formação de atletas. Dezesseis clubes de futebol mantêm esse esporte em seu quadro desportivo.


O mundial de remo tem representação brasileira. A última premiação foi no início de setembro, na cidade de Plovdiv, na Bulgária. No para-remo, o Brasil é bicampeão. Em muitas competições, a equipe brasileira ficou entre as dez primeiras colocadas, mas ainda não logrou medalhas, nem chegou a um pódio olímpico.


PERCALÇOS

O remo vem passando por dificuldades. É o que alega a Federação dos Esportes a Remo do Nordeste. A falta de verba para investir em novos equipamentos, investimentos na formação de novos atletas e recursos para os atuais atletas profissionais são os desafios da modalidade.


A crise no meio esportivo não é um problema atual, mesmo com leis para fomentar e incentivar as práticas esportivas de várias categorias. Dentre elas está a Lei Federal de Incentivo ao Esporte, promulgada em 2006, onde empresas e pessoas físicas podem investir um percentual do imposto de renda a entidades esportivas. Os doadores se beneficiam com a dedução no imposto. O mesmo ocorre com a Lei Estadual, com investimento realizado por meio do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviço (ICMS).


Mesmo com esses investimentos e a luta por patrocínio, não é o suficiente manter o esporte. Quem reforça esse quadro é Reinaldo Ramos, Vice-presidente da Federação do Esporte a Remo do Nordeste, atleta há mais de 40 anos. Atualmente ensina a modalidade em Barra de Jangada, Jaboatão dos Guararapes, e no Cabanga Iate Clube de Pernambuco, no Recife. “O remo tem equipamentos caros, são em fibra de carbono. Temos a Lei de Incentivo ao Esporte do Estado de Pernambuco, no entanto o valor que se libera é de cinco milhões para todas as entidades esportivas. É muito complicado para você conseguir esse recurso”, declara. Mesmo com esse quadro, o técnico acredita que com essa lei o esporte Remo vai renovar o fôlego: “agora tem que triplicar esse valor para que nós possamos ter uma alavancada dos esportes em Pernambuco”.


Outro problema que afasta novos adeptos do esporte no Recife é a poluição do principal local da prática desportiva: o Rio Capibaribe. “As pessoas deixam de ter entusiasmo em praticar remo porque acham que se tocar na água ou se uma gota bater vai adoecer e morrer. O rio é sujo, isso não há como negar, mas também não chega a esse nível. Mas se fosse uma água um pouco mais límpida, e se possível a prática de natação, atrairia muita gente”, acredita Bruno França, professor de Remo do Sport Clube do Recife.


É TAMBÉM UMA QUESTÃO DE SAÚDE

O esporte é atraente e conquista fácil. Keila Moraes foi apresentada ao Remo há quase dez anos e hoje se tornou a Presidente da Federação do Esporte a Remo do Nordeste. Saiu do sedentarismo para se tornar uma atleta amadora por opção. “Quando entrei no Remo eu comecei a me exercitar. Tinha picos de pressão alta, então tomava dois remédios para controlar. Estava bem acima do peso, e desde que comecei a treinar, há dez anos, não tomo mais remédio de pressão. Hoje ela está controlada. Para mim realmente foi qualidade de vida”, conta.


Leandra Carla dos Santos é praticante do Remo e fez do esporte um estilo de vida. Apresentada à modalidade pelo irmão, se apaixonou e não pensa em largar. “Antes era sedentária, não fazia nada e hoje eu sou uma atleta”, afirma.


O Remo é um esporte náutico de muito esforço físico. Trabalha o sistema muscular e aeróbico, exigindo velocidade, força e resistência. Muitas pessoas acreditam que ele só trabalha o dorso e os braços, pelo esforço das remadas. Mas apesar de ser praticado o tempo todo sentado, a embarcação possui um assento deslizante. Isso faz com que abdômen e membros inferiores também sejam trabalhados, tornando-se um exercício completo.


Para quem deseja experimentar o esporte, basta procurar os departamentos esportivos do Clube do Náutico Capibaribe e do Sport Clube do Recife. Ambos oferecem aulas para estreantes. O Cabanga Iate Clube de Pernambuco também ministra aulas, mas é necessário entrar em contato com a Liga Pernambucana de Remo e Canoagem de Barra de Jangada. Depois, é apreciar a vista e se inspirar no poema Cão sem Plumas de João Cabral de Mello Neto:


“[...] Aquele rio era como um cão sem plumas. Nada sabia da chuva azul, da fonte cor-de-rosa, da água do copo de água, da água de cântaro, dos peixes de água, da brisa na água. [...]”




 

por Ernani Neves

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