Amor pelo futebol e torcida à distância
- Admin
- 13 de nov. de 2018
- 7 min de leitura
Atualizado: 16 de nov. de 2018
É comum você andar pelas ruas das cidades brasileiras e encontrar pessoas com camisa de times do futebol europeu, como o Barcelona, Real Madrid, Bayern de Munique, entre outros. Talvez a pessoa esteja usando porque simplesmente gosta de futebol, porque coleciona camisas ou por serem realmente torcedores dos grandes times da Europa.
Diferentemente de torcer por um time local por pressão da família geralmente desde a infância, torcer para um time de fora do Brasil é coisa pra quem gosta muito de futebol e se apaixonou por uma equipe, mesmo que signifique torcer para uma cultura diferente, por outros costumes. O futebol está em todos os cantos do mundo, mas cada região possui a sua forma de torcer.
Os europeus são tidos como frios, sem a paixão característica dos sul-americanos, como na Argentina e no Brasil, onde o fanatismo é mais exacerbado, mas também existem times e torcidas espetaculares que atraem público de todo o mundo. O Real Madrid e o Barcelona são exemplos de clubes que possuem mais torcedores fora do que dentro do próprio país, pois a marca é muito forte. Times da Inglaterra e da Itália também estão no páreo pelo coração dos brasileiros.
Theo Leocádio, por exemplo, começou a torcer para o Milan por acompanhar a carreira do brasileiro Kaká, que foi para o clube italiano em 2005. "Minha melhor recordação foi do jogo vencido na temporada passada com gol de Cutrone na prorrogação. Apesar de ser numa fase ruim do time, mas é a primeira recordação de vitória num clássico que tenho”, conta Theo, que comprou sua primeira camisa em 2014.
Ele conta que existe um fato engraçado ao usar as cores do Milan, já que a camisa do time tem as cores do Sport, maior rival do clube do seu coração, o Santa Cruz. “A camisa do Milan tem as cores vermelho e preto, mas resolvi ignorar esse detalhe e simplesmente comprar a camisa do segundo time do meu coração e com a desculpa de que tem branco nela”.
"Torcer pra um time de outro país é diferente, não é a mesma coisa que seu time de coração mas, dependendo de como começou a torcer por esse segundo time, pode chegar perto da sensação. Quando você torce para um time de fora, mesmo que não seja com o mesmo fervor pro seu primeiro time, ainda tem uma brincadeira quando perde, mas não passa disso".
Uma das maiores dificuldades em acompanhar o time de outro país é a distância e ter que assistir pela televisão. “Assistir jogos dos campeonatos estrangeiros em geral está difícil sem a transmissão pelas televisões brasileiras, mas o campeonato italiano em específico assisto pelo aplicativo oficial do campeonato. Resolvi fazer esse esforço de pagar para ver meu time”, conta Theo.

Rostand Filho é um torcedor fanático do Liverpool, clube da Inglaterra. Tudo começou quando ele tinha seis anos e mal sabia o que era futebol, quando ganhou o jogo de Playstation, Fifa 2005. O primeiro escudo que achou bonito foi o do Reds, por conta da fênix e passou a jogar com ele, mas com o passar do tempo foi se interessando mais pelo Liverpool.
O primeiro jogo como torcedor, que acompanha o dia a dia do time, assistindo a todos os jogos, foi em 2013. “Liverpool 1x0 Stoke City foi o primeiro jogo da temporada na qual o time de Anfield se sagrou vice campeão. Nesse jogo o goleiro do Liverpool pegou um pênalti logo na estreia e no último minuto. Foi muita emoção pra mim”, conta Rostand.

"O Liverpool sempre traz grandes momentos emocionantes. Um que eu me arrepio só de lembrar é a volta das quartas de final da Europa League, em 2016, contra o Dortmund. Tínhamos empatado o jogo na ida 1x1, o jogo de volta começou e, em 10 minutos, já estava 2x0 pro Dortmund. Fiquei muito irritado e nervoso, descontamos mas logo depois o Dortmund fez 3x1. Não acreditava mais na classificação", lembra Rostand.
Supersticioso, ele tem a mania de desligar a televisão quando o time está perdendo. Aparentemente funcionou. O Liverpool fez o segundo gol e, depois de cinco minutos, ele empatou. "Fui à loucura e só faltava um gol pra virar e classificar. Como tive que buscar meu irmão na escola, deixei ativadas as notificações do jogo. Quando cheguei na escola, o Liverpool fez o quarto. Me joguei no chão, comecei a abraçar todo mundo ao meu redor. Gritava e sorria numa felicidade incrível".
Rostand ganhou a primeira camisa em 2013 e considera um dos melhores presente que já ganhou na vida. "Tento acreditar que um dia estarei fazendo parte disso, no estádio. É um dos meus sonhos. Além disso quando toca o hino da torcida do clube, uma adaptação da música ´You never walk alone´, dos Beatles, é um dos momentos singulares de todo meu fim de semana. É como se estivesse no estádio entoando, dando força, acreditando na vitória".
A paixão de Eduardo Baptista pelo Rayo Vallecano começou em 2014. Ele torcia pelo Barcelona, da Espanha, e acompanhava todas as partidas mas, depois de um jogo, no qual o Barcelona venceu o Rayo por 4 a 0, todas as manchetes simplesmente ignoravam o placar e ressaltavam um feito: após 4 anos, o Barcelona havia perdido em posse de bola para um adversário. Surgia ali uma admiração. A partir daquele jogo, Eduardo foi pesquisar e conhecer sobre o time de Madrid. Aos poucos foi se apaixonando, até se tornar um torcedor fanático do clube e parar de torcer pro Barcelona.
O primeiro jogo a que assistiu como torcedor do Rayo foi um empate de 0 a 0 com o Atlético de Madrid, um time valente que por pouco não derrotou um gigante. ”Minha melhor recordação do Rayo foi o título da Liga123, segunda divisão espanhola na temporada passada”, conta o torcedor apaixonado.
Eduardo ganhou a primeira camisa em 2015 e ficou bastante feliz, já que foi o ano da segunda melhor campanha do Rayo na primeira divisão. “Nunca tiveram preconceito por torcer para o Rayo, mas zombar de torcer pra time pequeno, sim.”, revela Eduardo que conta uma situação engraçada envolvendo seu time do coração: "certa vez andava pela cidade e usava uma camisa preta com a faixa rosa do Rayo, que é em homenagem as mulheres que lutam contra o câncer de mama. Uma senhora na lanchonete me perguntou se eu jogava num time de homossexuais".

“O Rayo pra mim é a felicidade. É o time que eu amo, que torço e que me faz chorar de alegria nas poucas vezes que ganha. O clube tem valores, tem torcedores apaixonados e uma das torcidas mais fiéis da Espanha. Felicidade é a palavra que melhor define, o que é o Rayo para mim”, declara Eduardo.
Victor César, apaixonado pelo Bétis, conta que apesar de hoje ser totalmente viciado em futebol, inclusive alternativo, na maior parte da infância não gostava do esporte e só começou a se interessar entre 2005 e 2006. Nessa época o Real Betis era um clube europeu médio em clara ascensão, que tinha alguns jogadores brasileiros, como Ricardo Oliveira, Edu, Assunção e Lima. Esses foram alguns fatores para que Victor se identificasse com o clube.
Ele assistia aos vídeos de melhores momentos na televisão e não sabia sobre sites piratas onde muitas pessoas assistem aos jogos online. Então, quase não via as partidas até o dia que se esforçou para encontrar um site para assistir ao duelo entre Real Betis x Villareal B, na última rodada da Segunda divisão da temporada 10/11. A vitória veio de virada por 2 a 1 com gols de Ruben Castro, maior artilheiro da história do clube e Iriney Santos, brasileiro não muito conhecido por aqui. "Diferente dos ´modinhas´ comecei vendo segundona", brinca Victor. “Aquele jogo está marcado na minha mente pra sempre”.
Entre tantas lembranças a que mais gosta é uma das mais recentes na memória dos apaixonados por futebol: a vitória por 5 a 3 contra o eterno rival Sevilla em pleno Ramón Sanchez Pizjuan, apelidado carinhosamente pelos Beticos de Ramona. Demorou a ter a primeira camisa por falta de sites confiáveis para comprar e o primeiro manto verdiblanco só chegou em 2015. “A cada recebimento da torcida e o hino subindo bate uma tristeza, mas creio que conquistarei esse sonho na minha vida de ir ao Benito Villamarín”, conta Victor.
“Hoje em dia é cada vez mais normal torcer para um time de fora, principalmente entre os insatisfeitos com a qualidade do jogo no Brasil e a ´gangorra´ que é o Brasileirão. É claro que não são todos mas existem muitos torcedores de times grandes como Barcelona e Real Madrid que têm preconceito com torcedores de times como Real Betis”, reclama.
É muito comum as pessoas puxarem conversa com Victor sobre a camisa e sobre o Real Betis quando está com ela na rua. "Foi engraçado quando comemorei um gol do Real Betis gritando bastante, não lembro contra quem, e meu pai ficou sem entender absolutamente nada”, conta. “Já vi o Real Betis em duas vezes na segunda divisão, então atualmente eu sou um craque de links na internet e, mesmo quando o clube subiu, poucos jogos eram transmitidos. O Real Betis ainda estava se estabilizando e aí preferia-se passar jogos de Valencia e Villareal por exemplo fora a dupla já tradicional Real e Barça”.

Victor é dono da página do Real Bétis no Brasil e conta como ela surgiu. "Já lia muito conteúdo do Real Betis na internet mas tudo em espanhol e queria algo em português. A última vez que vi isso foi em uma comunidade do Real Betis no saudoso Orkut. Procurei bastante e até existiam blogs, páginas e perfis porém todos inativos então pensei que eu mesmo iria criar um e foi daí que surgiu o perfil no Twitter. Não é fácil administrar com a vida pessoal fora o fato que a La Liga tem uma política de "caça" a esses perfis não oficiais. Já tive uma conta suspensa inclusive mas a vida segue e tento fazer meu máximo para trazer informação, opinião e um pouco de humor para a nação verdiblanca no Brasil", garante.
por Victor Tadeu
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