Futebol feminino e as suas dificuldades
- Admin
- 6 de dez. de 2018
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Existe uma grande diferença entre o futebol masculino e o feminino Brasil. Enquanto a pelota (Bola, em espanhol) jogada por homens possui apoio e utiliza recursos de grandes empresas, contando com altos salários para jogadores e comissão técnica, estádios cheios e grandes investimentos, por outro lado, o futebol feminino ainda é deixado de lado e tenta sobreviver com pouca parceria, pouco apoio popular e um preconceito que pode ser notado por várias pessoas dentro de uma sociedade machista.
Diversos fatores dificultam uma maior evolução do futebol feminino no Brasil. O caminho até se tornar uma jogadora profissional é difícil e longo, por isso muitas garotas acabam se perdendo ao longo do caminho e desistindo da carreira. Mesmo as jogadoras de sucesso no país recebem muito menos que um jogador de série A.
Sabendo que há desigualdade salarial para profissionais do futebol. As verbas salariais pagas aos jogadores é muito superior comparado às atletas. Marta, futebolista brasileira, 5 vezes eleita a melhor jogadora de futebol do mundo, recebia 400 mil dólares por mês, equivalendo a 1,2 milhões de reais, em média. Enquanto Neymar, mundialmente conhecido como o jogador mais caro do mundo, recebe 9,18 milhões de euros, cerca de 40 milhões de reais.
Enquanto o futebol masculino movimenta milhões de reais, produz ídolos em série e leva legiões de fãs aos estádios, no Brasil a modalidade feminina ainda busca o seu espaço, reconhecimento e – o básico – salários dignos para as jogadoras. Ana Luíza, que atualmente treina em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, e além do preconceito em campo, também sofre com a repressão fora dele. "Sofri e sofro preconceitos não só pelo fato de jogar futebol, às vezes é apenas por estar assistindo algum jogo, ou falando sobre o assunto em uma roda de homens. Nosso país é comumente o país do futebol, mas só pra homens? Por que não mulheres? Mesmo com o passar do tempo, ainda continuo sofrendo preconceito".
Nas categorias de base dos clubes, recheadas de jogadores ainda em formação que já cobiçam carros importados e polpudos contratos com clubes estrangeiros, os garotos mais promissores chegam a embolsar R$ 10 mil de salário mensal. Mesmo diante desse cenário desanimador, um número cada vez maior de meninas, como Ana Luíza, sonham em seguir os passos de Marta, Cristiane e Formiga, jogadoras-símbolo do Brasil. "No começo não tive apoio da minha família, por acharem que futebol não dá futuro para a mulher, o que se confirma, realmente, no país em que vivemos. Mas de um tempo pra cá, estão aceitando e apoiando um pouco mais”.
“A maior dificuldade para nós mulheres, é antes de tudo, achar lugar pra jogar. As quadras, os campos estão cheios de homens que não dão espaço para uma partida feminina, por exemplo. Outra dificuldade são os clubes não abrirem as portas para as mulheres, apenas clubes grandes oferecem essa oportunidade, mas ainda assim não temos times com categorias de base. Existe apenas uma pequena oportunidade, são poucas atletas, poucos campeonatos, pouca visibilidade", conta Ana Luíza.
O exterior é a saída financeira, mas para poucas. Segundo dados de 2017, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), mostra que 35 jogadoras brasileira, atuam fora do país. É praticamente o mesmo número de homens que atuam somente na Série A da Itália na temporada 2016/2017, onde 31 brasileiros estavam registrados no campeonato.
Victor Cavalcanti, apaixonado e estudioso do futebol feminino, percebe que existe uma mudança no cenário atual do esporte. "Existe um movimento de maior inserção das mulheres no futebol, o interesse das meninas em jogar futebol e existe também uma demanda que era reprimida. O que pesa mesmo é a ideia de que elas dificilmente vão se profissionalizar. O futebol ainda não é uma carreira para as mulheres”.
Mesmo nos principais clubes que possuem estrutura para o futebol feminino, os salários giram em torno de R$ 3 mil a R$ 4 mil. É perceptível que o valor está muito longe da igualdade, em relação aos homens, que costumam ganhar cifras de seis dígitos nos times da Primeira Divisão. A regra para as mulheres é o pagamento de modestas ajudas de custo, sem carteira assinada. Assim, a maior parte das atletas se vê obrigada a ter duplo emprego.
Leonora Gonçalves, ex jogadora do Vitoria de Santo Antão sabe que não existe segurança para as jogadoras e quase ninguém dá valor ao futebol feminino no Brasil. "Eu jogava no Vitória PE, um dos maiores clubes de futebol feminino do Brasil. Mas por ver como o cenário do esporte é difícil para nós, resolvi desistir dessa carreira. Futebol feminino aqui no Brasil pode estar tudo bem, mas de repente o clube pode fechar, infelizmente é assim que funciona".
Uma das principais ações práticas veio a partir dos gabinetes da Conmebol, entidade responsável pela organização das competições na América do Sul. A partir de 2019, os clubes serão obrigados a montar equipes femininas, caso queiram estar aptos à disputar a Copa Libertadores em sua versão masculina, principal torneio do continente. A CBF decidiu organizar, já a partir deste ano (2018), um novo Campeonato Brasileiro feminino, com 32 times distribuídos em duas divisões.
Com um maior número de times engajados, o incentivo às mulheres irá tender ao crescimento, principalmente para que encontrem o seu espaço no esporte. O nível técnico tende a aumentar e os jogos tendem a possuir um crescimento na qualidade e no potencial cativar o interesse do público e dos patrocinadores.
Nadine Dias, jogadora do Náutico, sabe que apesar dos avanços, ainda possuem um longo caminho a percorrer. "O calendário do futebol feminino é escasso no quesito competições. Normalmente, os times se prepararam para disputar apenas o Brasileiro e o Pernambucano".
“Meu sonho é ver essas meninas que surgem, vivendo do futebol no Brasil. Mas hoje, se puder dar um conselho para elas, é: ‘Quer ganhar dinheiro no futebol feminino?’ Vá jogar fora do país", aconselha Victor Cavalcanti.
por Victor Tadeu
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