Carateca se divide entre o tatame e as aulas de história
- Admin
- 29 de nov. de 2018
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Com mais de trinta anos dedicados ao karatê e mais de uma década na educação, Monteiro Júnior se divide entre professor e sensei

Mais de trinta anos dedicados ao ensino, tanto nas quadras e salas de aula, como nos tatames. José Monteiro Júnior, 54 anos, faixa preta de karatê com o quinto dan e também professor de história. Sendo assim, pode-se dizer que Monteiro, como prefere ser chamado, vive entre a bata e o kimono.
O início na arte marcial foi na infância, influenciado por filmes e por familiares. “Lembro de ver um asiático na tv que batia em todo mundo, e desde que o vi pela primeira vez quis ser como ele, mal sabia que era o Bruce Lee. Além disso, meu pai me achava muito inquieto, então me matriculou no karatê”.
O menino rapidamente aprendeu a direcionar a personalidade agitada para o esporte, como relembra José Monteiro Sênior “O júnior tava sempre fazendo bagunça, não parava quieto. Coloquei ele para treinar porque queria ver se a disciplina oriental conseguia acalmar ele, e deu certo. Com poucos meses na academia ele melhorou muito o comportamento”.
A evolução na “arte das mãos vazias” foi rápida, e logo Júnior começou a competir. Entre diversos títulos estaduais, regionais e nacionais, o que mais se destaca é um vice-campeonato mundial conquistado no ano de 1997. “Naquela época me senti muito honrado por representar não só meu estado mas também meu país, pois naquele momento específico o esporte não era bem visto na sociedade e não era muito apoiado pelo governo”, relembra o carateca.

Ainda como competidor, Monteiro passou a dar aulas. Inicialmente apenas puxando treinos, mas ao terminar seu ensino médio resolveu estudar Educação Física e se tornar treinador da arte que transformou a vida. “Comecei dando aulas quando meu sensei não podia ir à academia ou faltava aos treinos. Aos dezoito anos escolhi o curso de Educação Física no vestibular e a partir daquele momento coloquei na minha cabeça que ensinar karatê era o que eu queria para a minha vida”, ressaltou Monteiro.
Nessa época o ainda jovem competidor teve que enfrentar um novo desafio: ser treinador e lutador ao mesmo tempo. “São duas coisas muito diferentes. É muito difícil dar aulas, treinar atletas e competir contra adversários muito técnicos. Precisei me adaptar aos poucos. No começo foi complicado, mas aos poucos me acostumei”.
Em seu progresso como professor, Monteiro fez e faz parte da vida de muitas pessoas, como Ariel Maciel. “Tive aulas com ele quando era criança. Acho que dos meus 5 até os 9 anos e fui até a faixa amarela. Não me mantive no karatê mas é incrível a influência que a filosofia da arte e a maneira de ensinar do sensei Monteiro tiveram na minha vida. Se hoje sou extrovertida e se consigo me expressar com facilidade, em parte é por causa dele”, ressalta a estudante de Comunicação Social.

O próprio sensei reconhece que seu papel é muito mais de educador que de treinador somente. “Antes de ensinar pessoas a lutar, as ensino a viver em sociedade, e acho que esse é o meu diferencial. Já dei aulas a vítimas de acidentes graves, a vítimas de diversos tipos de violência, e ajudar pessoas é muito gratificante, mas até do que trazer medalhas para academia”.
Paralelamente a isso tudo, Monteiro usou seu diploma e passou a dar aulas de Educação Física em escolas particulares. “Foi um momento que mexeu um pouco com meu psicológico, porque eu não sabia como seria visto pelos alunos, e pior, não sabia como passar a ideia de autoridade a eles sem que me tornasse uma espécie de tirano. Como tudo na vida, foi complicado, mas aprendi com meus erros e com a experiência evolui. Hoje creio que tenho controle de minhas turmas e não acho que sou mal visto pelos meus alunos”.
Depois de alguns anos se dividindo entre as quadras e tatames, Monteiro descobriu uma paixão inesperada. “Depois de anos envolvido apenas com práticas esportivas, quis me tornar professor de história. Sempre fui apaixonado pela disciplina, principalmente nos meus anos de colégio. E no ano de 2005 resolvi cursar licenciatura, assim passei a ensinar história para o ensino fundamental, algo que gosto muito de fazer”.
Monteiro dá aulas na academia Akropollis, no bairro de Prazeres, Jaboatão dos Guararapes, nas segundas, quartas e sextas, das 18h às 20h.
Amor mútuo
Monteiro viveu muitas experiências únicas e interessantes na vida como competidor, mas a mais significativa aconteceu fora da área de luta. Num campeonato no ano de 2007, o lutador conheceu Mirella Mendonça, uma moça que havia iniciado os treinos há poucos anos, os dois se apaixonaram e logo começaram a namorar. “Logo quando o vi já fui cativada pelo olhar e pela postura que ele mantinha. Apesar de estar naquele ambiente tenso, ele passava uma ideia de segurança e serenidade, acho que foi isso que me chamou a atenção”, conta Mirella Mendonça Monteiro, hoje esposa do carateca.
Os dois se tornaram companheiros dentro e fora do tatame. No meio da luta, Monteiro foi muito importante para que no ano de 2011 Mirella realizasse o sonho de ser faixa preta “Eu comecei no karatê só pensando na atividade física, mas logo me apaixonei pela arte, e ter ele na minha vida foi fundamental para que alcançasse meus objetivos”.
Os dois se casaram em 2010, e o próximo sonho a ser realizado eram ser pais, porém isso não foi tão fácil. “Em 2012 a Mirella sofreu um aborto espontâneo. Foi difícil para nós dois, porque queríamos muito ter um filho, mas tivemos fé que um dia realizaríamos nosso sonho”, Lembra Monteiro.
O sonho se tornou realidade em 2016, quando Mirella deu à luz ao pequeno Lucas. “Ele é a maior conquista da minha vida, não trocaria ser mãe dele por nenhuma vitória em competição, nem por nenhuma faixa”.
Atualmente Lucas tem 2 ano e 9 meses, Mirella é segundo dan no karatê e a pequena família vive o melhor momento da vida deles.

por Luis Antonio
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