Jornalistas que correm
- Admin
- 19 de set. de 2018
- 6 min de leitura
Atualizado: 30 de out. de 2018
Profissionais da notícia contam como se apaixonaram pelo esporte
A corrida é uma prática que vem crescendo muitos nos últimos anos. O esporte fica cada vez mais popular, no Brasil ou no mundo. Isso ocorre porque, teoricamente, é simples. Basta ter um tênis e um pouco de disposição. Mas a origem da corrida é mais antiga do que se imagina. A origem temporal desta prática esportiva é localizada na pré-história, quando homens precisavam se movimentar rapidamente, caçando ou fugindo de predadores.
Historicamente, a corrida mais famosa de todos os tempos teria sido aquela que deu origem à prova da Maratona. A lenda diz que no ano de 490 a.c. um soldado grego teria corrido 35 quilômetros até Atenas, para contar a vitória sobre os persas na batalha de Maratona e, após dar a notícia, teria caído morto. Esta lenda impulsionou a entrada da prova na primeira edição dos Jogos Olímpicos modernos, em 1896.
Hoje em dia, as provas de corrida são parte da modalidade “atletismo” nas Olimpíadas, e se dividem em provas de velocidade e de resistência. As provas de velocidade são as de “explosão”, onde se percorre uma curta distância no menor tempo possível. Já as provas de resistência possuem as características de serem de média e longa distância (acima de cinco quilômetros), fazendo com que a resistência física dos atletas seja testada.
Os circuitos de corrida urbana acontecem hoje com grande frequência, atraindo milhares de atletas, profissionais ou amadores. Só em Pernambuco já estão previstas pelo menos 55 corridas de rua nos próximos três meses e meio, segundo o site Pernambuco Running.
Laís Reynaux
Uma entre os milhares de apaixonados por corridas é a jornalista e corredora Laís Reynaux, de 29 anos, que compete nestes circuitos urbanos sempre que pode. "Nunca tinha nem trotado, quanto mais corrido… Mas tinha um amigo meu do trabalho que sempre me chamava para correr. Até que um dia apareceu uma corrida para da TV Jornal, onde funcionários tinham um desconto muito bom, e decidi participar. Na época não aguentava correr três minutos, mas resolvi correr cinco quilômetros da corrida", conta.
Mesmo sem ter aquela força de vontade, Laís decidiu correr por incentivos do amigo. Ela se propôs a terminar o circuito, mas dizia abertamente que seria a última a cruzar a linha de chegada.
"Na minha cabeça tinha certeza que eu seria a última, já estava certo! Mas quando cruzei a linha de chegada, em uma posição até boa para quem nunca havia corrido, foi a maior alegria da minha vida. A sensação foi tão boa que decidi que ia fazer todas (as corridas), então fui treinando e melhorando meus tempos".
A jornalista contou que começou a treinar sozinha. Ela baixava planilhas na internet e ia correr. O objetivo era se sentir cada vez mais preparada, e baixar os tempos para as provas, sejam as de cinco ou as de dez quilômetros. Ela corria dia sim, dia não, em uma alta frequência. Mas com este ritmo de treino pesado, o corpo não aguentou. A jornalista começou a sentir dores no joelho, que a cada corrida ficavam mais fortes.
"Procurei um ortopedista e, após uma ressonância, descobrimos que estava com uma rachadura na cartilagem da patela, nível 3 (o máximo é nível 4). Lembro que aquilo para mim foi como me matar. Saí chorando do consultório, nunca tinha amado tanto um esporte, nunca estive tão feliz".
O médico havia pedido para ela parar de correr totalmente, e começar um tratamento com ácido hialurônico (injeções para dar mais fluidez às cartilagens) e fisioterapia. Depois de um tempo de tratamento, Laís resolveu procurar outro médico, mais novo, com maior propriedade para falar sobre lesões de atletas.
"Ele era corredor e inclusive tinha o mesmo problema no joelho. Falou que de jeito nenhum era para deixar de correr para sempre. Ele me mandou descansar, fortalecer a musculatura, e diminuir a intensidade das corridas e dos treinos, e continuar com o tratamento do médico anterior", explicou.
Depois de voltar a correr regularmente, a atleta queria incentivar pessoas a correr, falando da sua lesão, e da saída do sedentarismo. Para isso, Laís criou o Instagram "Mais1km", e teve uma experiência muito positiva. Mas com a rotina puxada de jornalista, achou melhor apagar a conta por não conseguir abastecê-la.
"Enquanto mantinha a conta, foi muito bom. Houve uma troca com outros corredores do Brasil, que seguiam o "mais1km", e que também passavam pela mesma situação. Aquilo me instigou bastante e vi que a lesão não era o fim" . Laís perdeu 14 quilos por conta da corrida. Ela garante, e costuma dizer, que não entrou na corrida para perder peso, e sim por ter se apaixonado, mas a diminuição da gordura corporal veio como um reflexo daquele exercício.
"Fui emagrecendo e o pessoal chegou a perguntar se estava tomando remédio. Sempre respondi que o meu remédio era o asfalto, e que o emagrecimento foi apenas uma consequência dessa paixão pela corrida".
Quando perguntada o que a corrida representava para ela, a corredora respondeu: "qualidade de vida, bem estar, e o meu momento, um momento de meditação que eu navego dentro de mim e vou embora ser feliz".
Outro jornalista apaixonado pela corrida é o produtor da TV jornal, Roberto Neves, de 59 anos. Ele começou a correr em 2011. "Comecei pensando em exatamente ficar bom da asma, depois me empolguei e não quis mais parar". O produtor já participou de cerca de 250 corridas desde 2011, entre elas, maratonas e meias maratonas. Neves costuma treinar na praça do Derby, correndo 40 km por semana, mas quando se prepara para uma maratona, o treino fica mais intenso.
"Quando você começa a treinar para uma maratona ou meia maratona, é preciso aumentar a rodagem. Geralmente faço, em média, 40 km por semana, mas quando vou participar de uma meia maratona ou maratona, aumento para 70 km ou para 100 km," explicou.
Mesmo sendo um corredor bastante experiente, o jornalista se machucou participando da Meia Maratona do Sol, no ano passado, em Natal, Rio Grande Do Norte. "Fui fazer os 21km, mas o percurso era cheio de ladeiras. Quando completei 10 km, tinha feito em 52 minutos e, se continuasse com aquela velocidade, ia fazer uma meia maratona com menos de duas horas, o que é muito bom para a minha idade. Quando fiz o retorno dos 10 km, senti uma distensão na panturrilha mas, mesmo assim, terminei a prova", contou.
Para o corredor, manter o ritmo e a frequência são os maiores desafios. "Correr todos os dia é muito difícil. Se eu parar por três dias, a preguiça bate. Imagina uma pessoa que não é acostumada a correr. Você começa a correr hoje, passa duas ou três semanas, e na quarta semana para de correr… aí que a preguiça vem mesmo! O ideal é correr pelo menos uns cinco quilômetros quase todo dia, para conseguir manter a forma"
Em 2017, Roberto Neves conseguiu a primeira colocação no Desafio Jornalista. Dentre as mais de 250 corridas, para ele, essa é a mais especial. "Aqui no Recife existe a corrida das pontes, considerada a mais importante. Todo ano a assessoria realiza a corrida "Desafio Jornalista", com circuitos de 5 e 10 km. No ano passado fui o primeiro colocado na de 10 km. Para mim foi um resultado muito bom, pois não competi na minha faixa, é uma corrida que todo jornalista pode participar. Acabei os 10 km em 50 minutos e uns 30 segundos, mais ou menos"
Correr, de fato, faz um bem danado à saúde, mas o que, especificamente, traz de benefícios ao corpo?
CORRIDA E A INCLUSÃO
Além de exercício físico, a corrida também serve como ferramenta de inclusão social. A ONG "Amar" realiza anualmente corridas inclusivas, chamando a atenção da população para pessoas raras.
Jornalista e corredora: Graça Araújo
Em uma reportagem sobre corridas, nestes dias tão tristes para o jornalismo pernambucano, não podia faltar uma homenagem à Jornalista e corredora assídua, Graça Araújo. A apresentadora do TV Jornal Meio Dia e do Rádio Livre amava o esporte, e sempre que podia, corria pelas ruas da cidade do Recife. Graça costumava dizer que existem mil maneiras de conhecer a capital pernambucana mas que, sem dúvidas, a melhor delas era correndo.
Graça morreu no dia 8 de setembro de 2018, vítima de um Acidente Vascular Cerebral hemorrágico extenso. Ela passou mal, justamente quando se exercitava em uma academia do bairro de Boa Viagem. Ela contava que começou a correr como uma forma de melhorar a saúde, e se apaixonou pelo esporte. A apresentadora participou de diversas maratonas e corridas de rua. Em uma reportagem do programa "Por Dentro com Cardinot", da TV Jornal, o treinador de corrida de Graça contou que uma semana antes do AVC, a jornalista estava com ele e um grupo de corredores, correndo 15 km.
Homenagem
Graça Araújo será homenageada na Corrida Cosme e Damião. O troféu da prova receberá o nome da apresentadora do TV Jornal Meio-Dia.
Vida
A jornalista nasceu em 2 de abril de 1956, na cidade de Itambé, na Zona da Mata Pernambucana. Maria Gracilane Araújo da Silva seguiu para São Paulo ainda criança, onde se formou jornalista, e voltou ao Recife. Antes de iniciar a trajetória na TV e Rádio Jornal, Graça trabalhou na rádio Transamérica, na rádio Clube, na TV Globo, e na já extinta TV Manchete. Em 1992 a apresentadora iniciou os mais de 26 anos de história no Sistema Jornal do Commércio de Comunicação. Ao todo foram 35 anos dedicados ao jornalismo.
Prêmios
Em 2010, Graça recebeu, na câmara municipal, o prêmio de honraria de cidadã recifense. Em 2018, no dia 13 de agosto, a apresentadora recebeu das mãos do presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Adalberto de Oliveira Melo, a medalha de honra ao mérito Judiciário Desembargador Joaquim Nunes Machado. E no dia do seu falecimento, o quadro Consultório de Graça, do programa Rádio Livre, ganhou o prêmio SBN de jornalismo na categoria rádio, entregue pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.

por Vinícius Rocha
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