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Medo e paixão em um domingo tricolor

  • Foto do escritor: Admin
    Admin
  • 27 de nov. de 2018
  • 2 min de leitura

Domingo, quartas de final da Série C do Brasileirão. Só me dei conta da proporção do evento quando estava no meio do caminho, voltando de Bonito ao Recife, no ônibus. O trajeto é simples, geralmente tranquilo. Desço no TIP (Terminal Integrado de Passageiros), pego o metrô e desço na estação de Afogados, dali espero o PE-15 e logo estou em casa. Exceto naquele dia.


Logo quando entrei no metrô, o vagão já estava cheio de torcedores do Santa Cruz. Fariam o mesmo trajeto que eu. Alguns, machucados. Já havia acontecido briga em alguma estação de metrô ou integração de ônibus. Nada que fuja da realidade brasileira e, mais ainda, pernambucana, recifense, mas quando é algo que nos atinge especificamente, que acontece no nosso meio, é muito mais assustador e perceptível.


Ao descer na estação do metrô, aquele mar de gente. Primeiro veio o desespero porque ali estava eu, sozinha, com uma mala e um medo pesado. Medo porque diariamente as notícias mostram que inocentes morrem. E, talvez por isso, deva-se pensar e questionar: Por que algo que deveria ser puramente diversão e paixão acaba de uma forma tão trágica? Tão banal?


A segunda sensação foi de alívio. Não iria mais pegar aquele ônibus lotado de torcedores, muitos bem-intencionados, mas com “vândalos” infiltrados, tanto que os vídeos que correm na internet e passam nos telejornais são sempre os mesmos: ônibus apedrejados, torcedores no teto dos coletivos gerando caos e desespero.


Passada a fase do desespero e a fase do alívio, veio o sentimento de orgulho. Veio a emoção. Senti na pele, mesmo que em casa, a sensação de quem estava no Arruda. Aquele mar de gente, as três cores que fazem o coração de qualquer torcedor passar por cima das decepções que o elenco traz, campeonato atrás de campeonato. Vermelho, branco e preto. O manto sagrado sobre o corpo, a bandeira amarrada no pescoço, o sentimento transbordando a pele.


Futebol é isso. Mais do que isso. Futebol é amor incondicional. É paixão. Não é “só futebol”. Nunca foi só um jogo. A sociedade tem seus problemas sociais e, por isso, o medo, o pavor, o desespero se instalam nas pessoas como se, em dia de jogo, ninguém devesse sair de casa. É preciso entender que futebol é amor e é um meio de unir o povo. Dito isso, exemplifico: As pessoas saíram de suas casas, em pleno domingo, para apoiar uma causa. Para apoiar seu time Série C que precisava daquela vitória rumo à classificação para Série B. Aquelas pessoas não estavam indo ver o melhor time em campo, que tem a melhor pontuação e no melhor campeonato. E futebol é isso, apoiar nos melhores e nos piores momentos. É na raça. É no sofrimento. É pelo amor. É pelo Santa Cruz. Isso até me fez esquecer do medo que senti.

 

por Júlia Oliveira

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