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O dia em que o jogo virou

  • Foto do escritor: Admin
    Admin
  • 21 de out. de 2018
  • 2 min de leitura

Vocês sabem como fica a cidade quando tem clássico. As lojas fecham mais cedo, o trânsito fica um caos, a internet bomba com memes.... O tema principal de toda e qualquer conversa é sobre o jogo. É como se, de repente, o mundo inteiro só soubesse falar disso.


Tentava chegar num compromisso inadiável quando um carro em alta velocidade furou o sinal vermelho, passando muito próximo de mim. Como estava imerso em pensamentos sobre o compromisso, não vi o carro e fui acertado em cheio com o susto. Num grito silencioso, só consegui me segurar num poste ao lado, ironicamente marcando a velocidade máxima da via: 30km/h.


Naquele momento, quando o tempo parou, comecei a sentir as dores. Todo o corpo doía, principalmente de raiva. A sensação de impotência era o que mais me angustiava: não consegui nem anotar a placa do carrasco do meu dia. Tudo que conseguia me lembrar era a cor e modelo: um Fusion Branco. Se os vidros não fossem tão escuros, talvez desse pra ver quem estava dirigindo, pra montar um retrato falado ou qualquer coisa parecida. Mas, talvez, aquele adesivo do Santa Cruz no vidro traseiro, significasse algo.


Ignorando a vontade de desistir, segui em frente sem olhar pra trás, torcendo para que não tivesse perdido meu compromisso. Desistir não era uma opção, já que se tratava de um estágio numa empresa importante. Devo ter demorado quase meia hora pra chegar desde o ponto do susto, me fazendo pensar no caminho que se eu estivesse de carro naquele dia, esses trinta minutos seriam reduzidos pela metade, no mínimo.


Assim que cheguei na recepção, descobri que tinha acontecido um assalto poucos minutos antes da minha chegada e levaram todos os pertences de quem estava na recepção. Toda a recepção ainda estava atordoada, já que provavelmente os assaltantes ainda estavam no prédio, em algum dos três andares.


E, como se o dia não estivesse estranho o suficiente, o Fusion Branco com adesivo do Santa Cruz aparece do outro lado da janela de vidro, saindo da empresa em alta velocidade. Antes que pudesse perguntar, chega um engravatado gritando que os assaltantes levaram o carro dele. Quando se aproxima, percebo pelo crachá que é o dono da empresa.


E as reclamações continuaram: segundo ele, nada teria acontecido se, naquele dia, não tivesse o jogo mais importante do campeonato, que ele precisou assistir no escritório, já que a TV dele resolveu parar de funcionar naquele dia. Essa, também, foi a razão do atraso – e de furar o sinal vermelho: como um bom brasileiro, tentou até os últimos segundos ressuscitar a TV. Mas falhou, assim como o seu time, que perdeu o jogo.

 

por Bernardo Sampaio

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