Meu futebol menino
- Admin
- 21 de out. de 2018
- 2 min de leitura
- Escolinha!
- BURITY!
- Escolinha!
- BURITY!
Eram os gritos de treinador e jogadores. Pequenos, no tamanho e na idade. Grandes, no talento, na garra e na ânsia ao estrelato. Os olhos de cada um, quando de encontro com a redonda, brilhavam como constelações que já estavam com milênios de existência. A chuteira rasgando o gramado seco e empoeirado. Gramado de barro. Gramado que pra eles era o melhor de todos os gramados. Não tinha Camp Nou ou Maracanã que pudessem competir. Porque aquele gramado de barro era deles. Era onde estavam construindo seus sonhos.
“Eu quero ser profissional, porque jogador eu já sou, graças a Lã”, dizia o pequeno Caio, e com razão. É um baita de um jogador, o Caio. Driblava todo mundo, carregava a bola com vontade. O uniforme duas vezes maior do que deveria ser, mas carregava seu nome e o número mais bonito, recebido com mérito: 10. E Índio? Era o apelido do Yuri. O mais novo da equipe, mas já prometia dar trabalho pros companheiros do time adversário. E Lã? É o comandante da equipe, o que botava ordem quando a briga começava. O que mostrava que futebol não é só driblar, dar passe, fazer gol. “Se quer ser jogador e ter espaço nesse time, tem que estudar”, é o que ele sempre fala pra os meninos.
E foi assim que ao longo desses anos todos de Escolinha Burity, Lã conseguiu tirar esses meninos da rua e da vulnerabilidade para as salas de aula e campos de futebol. Com todas as letras, um professor. E eu via, em cada um daqueles meninos, o amor e a felicidade de estarem naquele lugar. Na alegria de levantar de 5 da manhã em pleno sábado e gritar “mainha, hoje tem treino!”, me contou assim uma mãe, que assistia ao triunfo do gol do seu pequeno, de camarote.
Um simples vendedor de loja de móveis mobilizou toda uma comunidade. Conseguiu parceiros. Mudou a vida de várias crianças, e continua mudando a de dezenas de outras. A sensação de trabalho cumprido marca o sorriso largo do homem que não mede esforços pra levar alegria pra um monte de menino. E o que dizer deles? Ah, esses meninos...cada palavra de Lã é lei no mundo deles. Um pai-treinador-professor.
O futebol-transformação começa assim. Menino. Cresce junto com quem se contempla dele. Quem usufrui dele da melhor maneira. Ele vale a pena pra quem se transforma e se torna um cidadão por conta dele.
Agora, toda vez que contemplo uma cena de uma bola e de um pequeno, lembro de Lã. Lembro daqueles meninos. Do futebol criança que eles constroem dia a dia. E que fazem questão de dizer pra Deus e o mundo do quão orgulhosos são de serem jogadores de futebol.
“Tia, tia! Quando que a senhora vem ver o treino da gente de novo? Nem fiz gol pra senhora hoje”.
por Laís Arcanjo
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